Compartimentos

segunda-feira, 29 de março de 2010

A estrela, a casa e eu.

E então ela simplesmente despencou. Caiu até um certo ponto e sumiu. Simples assim. E eu, aqui, impedida, sem poder fazer nada além de chorar. "Mas chorar porque?" Alguns perguntam. Chorar porque não era apenas uma estrela que caia e sumia. Eram todas elas. Pra mim, eram como se todas as estrelas se apagassem, porque a luz das estrelas estava baseada naquela ali, naquela  que me cativou e eu sabia que existia alguém a esperar por mim. Naquela que morei a minha vida inteira. Naquela estrela que eu chamo de casa. A minha casa havia sumido. Não existia mais, e eu nunca mais poderia voltar para lá. Eu estava sem casa, sem vida, sem história. Foi por isso que chorei. Chorei pela minha história, e pela vida da minha casa. Desabei ao chão, como se quem tivesse caido fosse eu, como se quem tivesse sumido fosse eu. Não tinha mais chão sobre os pés, nem uma Terra ao meu redor, era eu e a escuridão da Noite. As estrelas sumiram, a minha casa sumiu, eu sumi. Não sei se vocês humanos podem entender a dor que tive, vocês nunca perderam a casa, não digo essas paredes frias de concreto que te cercam, mas sim a Terra em que você pisa. É uma dor enorme, terrível. Fiquei sem reação, nada podia ser feito. Acabou, acabou tudo. Olhei mais uma vez ao céu escuro e comecei a andar para dentro de casa. Não existia mais a luz das estrelas, nem a graça. Os olhos de risada que via sumiram e se tornaram lágrima diluida, transparente sob o céu negro. Milhões de lágrimas caindo ao mesmo tempo. Todas essas milhões tão longe, a anos-luz de distancia, e uma aqui, caindo pela pobre estrela que não existe mais: A minha casa.

(Baseado em fatos reais.)

terça-feira, 23 de março de 2010

Está na hora de voltar para a realidade.

Eu não tenho muitos momentos inteiramente a sós na minha vida. Só de noite, na cama, quando eu deveria estar dormindo, e no banho. E, por mais melancólica que seja, eu aproveito esses momentos para chorar. O banho é o melhor lugar pra isso. Na cama, as vezes posso fazer barulho demais e acabar chamando a atenção de alguém. No banho, o barulho se confunde com o chuveiro e as lágrimas se misturam com a água. E os dois caem juntos, como um. Não é só a minha água caindo, é a do mundo inteiro. Não são só as minhas lágrimas, são as do mundo inteiro. Estamos os dois, eu e o mundo, chorando todas as nossas magoas, em uma tristeza conjunta. Fecho o chuveiro e o choro do mundo cessa, ficando só o meu. No silêncio. Cai a ultima lágrima do meu rosto, saio do banheiro e respiro fundo, está na hora de voltar para a realidade.

Criança

Criança
Que avança
No seu mundo a dançar
Enrola
Sua trança
Sem importância de soltar
Roda roda
Nessa valsa
De cantigas e brinquedos
Brinca sonha
Com amigos
E vai contando seus segredos
Encanta a todos
os que passam
com os olhos de quem vai voar.
Brilha solta
Nessa vida
De criança.
                 De brincar.

Cata-vento

Cata-vento
Cata-sorriso
Gira a brisa fresca
Dando o gostinho de amar

Seus giros coloridos
Sem medo de voar
Faz adulto ser criança
Faz criança dançar.

sábado, 6 de março de 2010

Medo.

E um clarão no céu. Seguido por um estrondo pavoroso. E algo se encolhe por dentro. Como quem quer se esconder num lugar longe dali mas não pode. A vontade de sair correndo é enorme. Correr para os braços de alguém que te ama só pra ouvir ela dizer que já vai embora. Só pra ouvir ela te acalmar dizendo que ele não vai te fazer nenhum mal. Mas agora, não tem braço que me abrace pra dizer tudo isso. Quem poderia fazer isso está longe e eu tenho medo. Um medo que muitos consideram infantil, mas que para mim é pavoroso. Quero tapar os ouvidos. Eu tapo. Mas os barulhos são tão altos que as mãos nas orelhas não fazem efeito. E o céu brilha, brilha como se fosse o fim do mundo. E eu paro de respirar. Na incerteza de que essa luz não vai me pegar. No desespero de ter isso por perto, e mais perto, e mais perto. Cada vez mais perto, mais alto, mais claro, mais horrível.  E eu não sei mais para onde ir. Para onde fugir. Fugir desse lugar que estoura. Fugir desse monstro horrível que corre atrás de mim pra me assustar. Já estou assustada me deixa. Já estou chorando, pare. Pare, por favor. Pare. PARE. Pare com isso. Chega. Me tirem daqui. Me levem pra longe desse lugar. Não quero morrer por favor. Por favor. Me abrace agora. Só isso. Só me abrace e diga que já vai embora. Por favor, me abrace forte e me diga que é só um trovão e que já vai embora.

(A autora desse texto tem realmente um horrível medo de trovões)