Não é a cara, nem o cabelo, nem a
boca que vão te dizer quem é a pessoa que teu olho encontra. É
preciso querer olhar. Olhar os detalhes que não estão impressos na pele.
Aqueles detalhes de uma beleza que não se mostra. Aquela alegria expressa no
sorriso, a tristeza do olhar. São coisas que precisamos olhar pelos olhos de
dentro, aqueles olhos que estão presos dentro da gente e só esperam uma fresta
na janela para poder sair voando por aí, descobrindo pessoas. São esses olhos
que faltam nos que fazem guerra, nas pessoas que não sentem amor. É preciso
parar um pouco, perder a pressa, perder a hora. É preciso parar de olhar só pra
frente. É preciso, de vez em vez, olhar ao lado, olhar para aquela pessoa que
passa do teu lado, aquela pessoa tão ela mesma que você nunca viu na vida,
aquela pessoa que também te olha, mas você nunca percebeu. Não se pode ter medo
do olhar alheio. São estes outros olhos que te suplicam um pouco de tempo, que
imploram por um pouco de compaixão. O mundo precisa desses olhos, o mundo
precisa despertar, acordar desse sonho louco de solidão. Existe um segredo para
libertar esses olhos de sentir, que correm loucos dentro da gente. É preciso
tentar. É preciso olhar pra dentro. É preciso simplesmente amar.