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domingo, 8 de agosto de 2010

E ela corre.


            Seu vestido arrasta pela lama molhada da chuva. Ela não se importa. Seu penteado se desfaz e a maquiagem é borrada. Ela não se importa, nada mais importa para ela. Chove, e os pingos caem com força em seu rosto, e já não se distingui mais suas lágrimas. Meros pingos de água salgada que saem de seu corpo para demonstrar algo tão imenso que ela não se agüenta. Ela tropeça e cai sobre os espinhos de uma roseira. A dor que começa se torna insignificante perto do que sentia. Ela olha para trás. Para seu passado. Para aquele que ela julgava ser amada. Ele a observava inerte, não se via nada em seus olhos. Eram escuros, fundos e vazios. Imensamente vazios. Ela se levanta com o resto de suas forças e corre desesperadamente. Sem direção. Ela não se importa, ela só quer fugir, ela só quer ir o mais longe que puder, como se essa distancia pudesse fazê-la esquecer tudo o que acontecera. Os encontros, a dança, o beijo. Tudo aquilo: uma ilusão. Enquanto corre sua mente não deixa de atormenta-la com tudo o que haviam passado juntos. Ela repetia para si mesma “Ilusão, ilusão.” Não queria lembrar de mais nada. Mas sua mente a torturava com as palavras, a negação. Ela não queria acreditar que era a outra, que não era amada. Naquele momento ela queria morrer. Sentia seu coração doer, sentia seu corpo doer, sentia sua cabeça doer. Não conseguia mais distinguir realidade de ilusão, o que era dor e o que não era. De repente tudo escurece e ela cai.
             Passa-se um dia, e o sol a acorda. Batera sua cabeça sobre uma pedra e não se lembrava mais de nada. Sentia um estranho cansaço sobre suas pernas, mas não se lembrava o porquê. Tinha percorrido o jardim, a floresta e agora estava em frente ao Lago das Pedras. O silencio era absoluto. Ouvia-se apenas a água que batia contra a margem e alguns passarinhos que levantavam de seu ninhos. O sol cegava seu olhos e ela levou um tempo para conseguir se acostumar com a claridade. Olha em volta e não reconhece nada. Olha na água e não se reconhece. Sente então a dor dos espinhos e vira-se para descobrir aonde havia se machucado. Descobre então sobre sua perna um rosa vermelha. Uma rosa grande e majestosa que, sem nenhum motivo, a fez se sentir bem. Uma rosa manchada de sangue. Ela pega a rosa entre suas mãos sujas de terra, seu coração aquece. Ela levanta-se e caminha para onde julga ser o caminho certo. Sua vida, começa ali.



                      ‘—Tudo começou com uma rosa, e com uma rosa terminará.'